A arte de bem pecar
Pergunto-me o quanto nós usamos a arte como caixa de ressonância à nossa timidez.
E só encontro respostas vagas.
Já que usamos na arte todos os argumentos possíveis e imagináveis de modo a não obtermos nenhuma resposta.
E não queremos respostas porque a nossa timidez e a nossa cobardia a isso obriga.
Mas na verdade a arte encoraja os escritores os encenadores e os actores a partilhar os seus sentimentos e a gerir pressões sociais perante um público, que vê em nós, aquilo que não vê em si.
Aos olhos de uns somos actores e aos olhos de outros somos meros espectadores.
Mas na verdade somos interlocutores de um público que paga um bilhete à entrada para ter absolvição dos seus pecados à saída.
Maquilhamo-nos, vestimos a batina preta e olhamos para o ponto como sendo o réu e enfrentamos os espectadores com uma vírgula e um ponto final, sem interrogações pois somos advogados do Diabo e sendo assim só aceitamos exclamações.
Fechamos os olhos e confiamos na nossa memória e de repente o nada transforma-se em tudo e o encantamento leva a realidade até ao reino da fantasia, pelos menos até que o espectáculo acabe.
Somos despertados pelo som apoteótico das palmas é esta a demasia do nosso trabalho e agradecemos a presença do público e abandonamos o palco transformados em juízes de Deus.
Mudamos de roupa e saímos misturados com os espectadores com todos os nossos pecados perdoados, amanhã voltaremos a pecar.
Vítor Dias
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